Vamos lá então por partes:
1.
José Sócrates "impressionado" com sistema de ensino na Finlândia
2.
Plano tecnológico: Sócrates procura inspiração no modelo finlandês
3.
O milagre finlandês e a educação superior
4.
Parlamento finlandês pode inviabilizar empréstimo do país a Portugal
5.
Silva Pereira acusa Finlândia de colocar em risco “projecto europeu”
Ou seja:
Os finlandeses eram o bom exemplo para tudo. Havia mais que um professor na sala de aula e sempre que um aluno tinha dificuldades era logo ajudado. Devia, portanto, aprender a ajudar quem precisa. Tudo o mais naquele país era topo de gama, a copiar, a servir de exemplo, a alcançar.
Agora as coisas mudaram. Pelos vistos, os alunos finlandeses que tão ajudados são nas suas dificuldades iniciais, não aprendem a ser solidários. Crescem, alguns vão para deputados e outros cargos públicos, mas parece que nada aprenderam em pequenos. Não querem pagar para os portugueses que tanto os idolatravam. E nós, já esquecidos de tanto elogio que lhes aplicámos em vários contextos e com intenções mais ou menos nobres conforme as circunstâncias, resolvemos agora que eles colocam em perigo o Projecto Europeu, embora ainda tenhamos esperança que seja só paleio em tempo de eleições finlandesas.
Portugal não coloca nada em perigo, pois não?
Quando fazemos da exigência uma palavra esquecida no dicionário, nada colocamos em perigo.
Quando aumentamos o défice, não por descontrolo, mas por opção assumida, nada colocamos em perigo.
Quando arruinamos as contas públicas de um país inteiro, apesar dos múltiplos avisos de vários quadrantes, nada colocamos em perigo.
Quando construímos uma sociedade em que muitos ganham mais a descansar do que os outros a trabalhar, nada colocamos em perigo.
Quando podemos (alguns) acumular reformas principescas, umas atrás das outras, sem qualquer controlo e, ainda por cima, já reformados, continuar no activo mas ganhar como reformados, pois é mais rentável, nada colocamos em perigo.
Quando avançamos com TGV e aeroportos que têm de ser parados por falta de verbas (entre outras razões), mas deixamos milhões nos contratos para indemnizações, nada colocamos em perigo.
Quando saltamos da política para as empresas e das empresas para a política, num eterno acumular de interesses e benesses distribuídas sem qualquer controlo, nada colocamos em perigo.
Toda e qualquer asneira que façamos (poderia continuar os exemplos por muitos mais parágrafos), nada colocamos em perigo.
O Projecto Europeu aguenta tudo isso e muito mais!
Agora se os finlandeses, aqueles malandros, ousam ser exigentes, aplicados, organizados e realistas, não estando para aturar as loucuras dos outros, mesmo daqueles que os elogiam o tempo todo, aí sim: COLOCAM EM RISCO O PROJECTO EUROPEU!
Obviamente que precisamos de ajuda.
Obviamente que precisamos modéstia.
Obviamente que temos de compreender que os outros não estejam para nos aturar tudo.
Obviamente que temos de respeitar essas opiniões, sobretudo porque vêm dos nossos credores, repito, credores!
O que coloca o Projecto Europeu em causa vai muito para além do puxão de orelhas que os finlandeses nos querem dar. E que me desculpem todos os portugueses que, tal como eu, não faltam um dia ao trabalho, se esforçam por trabalhar ao máximo, dar o melhor de si mesmos todos os dias, e se esforçam por ter as suas contas sempre em dia, cumprindo todos os seus compromissos, mesmo prescindindo de férias no estrangeiro e tudo o mais que se revele necessário para uma vida honesta... mas este puxão de orelhas é merecido.
Espero que o Futuro, depois de alguns anos de amargos de boca que alguns teremos de pagar devido às loucuras de outros, possa ser, tal como a vida na Finlândia, mais realista, mais exigente e mais responsável.
Só assim o Projecto Europeu avançará!